terça-feira, 19 de agosto de 2014

Quinta semana seguida com o baclofen /baclofeno

Esta é minha quinta semana com o baclofeno. Semana passada levei um susto pois ao entrar no site e pedir o remédio não tinha, como eu ainda tinha umas cartelas aguardei mais alguns dias e o próprio site me informou que o remédio já estava a venda. Já fiz um pequeno estoque, devo ter comprado umas 12 cartelas sendo que cada uma vem 20 comprimidos. Tomando 4 por dia cada cartela dura para 5 dias. Compro pelo site da Ultrafarma, 3 caixas por R$ 15,98, ou seja, cada caixa sai por R$ 5,32. Um método até que barato, por sorte aqui no Brasil não é necessário a retenção do pedido médico.

Minha última semana confesso que está sendo ótima, cada vez penso menos no álcool, como já disse, acredito que estamos tão habituados com a cultura de beber que isto pode ser um grande fator para parar, as vezes não é nem a abstinência e sim a cultura.

Outro efeito colateral que eu havia esquecido quando eu tomo 20mg seguido é a dor de cabeça, muito forte mesmo. Domingo eu acordei e fiz o que tinha que fazer para ir para casa de familiares, quando estava saindo não lembrava se tinha tomado o remédio ou não, na dúvida resolvi tomar, foi ai que meu corpo me lembrou que sim, que eu já havia tomado pela forte dor de cabeça e cansaço.

O que tem me incomodado demais é que geralmente eu acabo dormindo muito cedo e acordando muito cedo. As vezes acordo as 05:30 da manhã e não consigo mais dormir, mas não me incomoda muito pois meu corpo necessita apenas dormir 8 horas, ou seja, se eu acordo as 05:30 mas fui dormir as 21:30 então ok, dormi as 8 horas, mas se por acaso durmo a meia noite por algum compromisso ou simplesmente pq venci o sono e fiquei vendo um filme, mesmo assim eu acordo as 06:30 e por ter dormido menos meu corpo fica cansado, mas isto acredito ser um problema de organismo meu, sempre fui de acordar cedo mesmo tendo ido dormir tarde, só que agora é MUITO mais cedo do que antes do remédio. (li relatos de pessoas que tiveram insônia)

Bem, vamos ao que interessa. Esta semana que passou posso dizer que agora sim começou a diminuir a quantidade. Semana passada eu não bebi de segunda a quinta (fazia tempo que ñ bebia a semana toda), na sexta fui buscar uma pizza com meu marido e ele quis pedir uma cerveja, eu nem queria porque estava frio, mas confesso que gostei que ele pediu, e antes de acabarmos a pizza ficou pronta, pagamos a única cerveja que tomamos e viemos pra casa,em outros tempos eu pediria para bebermos mais algumas na pizzaria ou pediria pra passar no posto de gasolina e pegar para trazer para casa. No sábado combinamos com um casal de amigos de ir a um bar, fomos, bebemos basicamente como sempre bebemos, e como eu ainda ia fazer uma receita que havia pegado na internet, passamos no posto de gasolina e pegamos mais umas 5 latinhas de cerveja, meu marido como já havia bebido até pinga chegou e foi dormir, fiquei na cozinha e bebendo as que me sobraram, mas quando acabou a cerveja apesar de ainda ter querido mais, fiquei na minha e fui dormir.

Domingo como já citei, sem querer tomei 2, e apesar da dor de cabeça e o cansaço, fui com meu marido na casa de familiares e fiquei super de boa, em outras épocas eu iria querer sair para ir na casa de amigos beber ou ir para o bar, ficamos o dia inteiro na casa de familiares e não tive nenhuma vontade, a noite fui para casa dormir normalmente.

Ontem, segunda feira, foi aniversário de uma amiga próxima e juntamos alguns amigos para fazer uma surpresa para ela e adivinha? Só levamos o bolo. QUANDO que EU iria numa comemoração e ñ levaria já minha cerveja pessoal?? NUNCA.. rsrs. Ou no mínimo eu até iria e ficaria inquieta querendo voltar por achar sem graça. Fiquei lá das 08:00 até meia noite e só vim embora porque precisava acordar cedo para trabalhar porque pela conversa ia longe. Isto é realmente muito gratificante, voltar a ser quem já fui um dia, estar num local sem ficar pensando em cerveja ou estar achando tudo chato pela falta do álcool, só quem tem este problema pode imaginar como é bom não sentir esta vontade.

Resumindo, basicamente na ultima semana eu só bebi no sábado. Acho que a última vez que bebi pouco assim deve ter sido há 5 anos atrás quando me submeti a uma cirurgia e tive que óbvio ficar algumas semanas sem beber.

Claro que se eu pudesse escolher beberia sempre com moderação, seria uma pessoa normal, mas já entendi que minha genética jamais vai permitir isso. Então eu prefiro com o uso prolongado do baclofeno perder totalmente a vontade de beber e se isto acontecer não voltar mais a cair na armadilha. Li que o baclofeno com o passar do tempo vai perdendo a eficácia, então é provável que se continuar com o hábito de beber mesmo só por beber, uma hora o vicio volta.

Este foi o relato de mais uma semana. Volto na semana que vem.

Achei esta page no facebook de relatos do uso de baclofeno, é de Portugal mas tem ótimos relatos:
https://www.facebook.com/pages/Baclofeno-em-Portugal-Tratamento-do-Alcoolismo-e-de-Outras-Adi%C3%A7%C3%B5es/1454831454747258


quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Mais uma semana

Se não me engano esta é quarta semana do tratamento, na verdade eu tinha iniciado há 6 semanas, tomei por 3 dias e tive uns problemas de saúde e parei pois tive que tomar um outro remédio, depois de uma semana e meio parada eu voltei a tomar.

Como já tinha falado por aqui, tentei tomar 60mg/dia mas não consegui, muitos efeitos colaterais como tontura, sono incontrolável, perda de localização e confusão mental total, então voltei a 30mg/dia. Esta semana decidi o seguinte, tomarei 10mg (1 comprimido) de manhã, 10mg a tarde e na hora de dormir tomo 2, está sendo legal pois quando o efeito mais forte bate estou dormindo então não atrapalha no meu serviço. E se tudo continuar bem semana q vem tomarei 10mg de manhã, 10mg a tarde e 30mg a noite e tentarei assim por pelo menos 1 mês.

Outro efeito colateral que eu já havia percebido em outras semanas mas só lembrei agora foi a ânsia que da as vezes, principalmente as segundas feiras que é o primeiro dia sóbria após o FDS que bebo.

Eu ainda estou bebendo, de FDS e quase a mesma medida que eu bebi antes, mas como já citei é mais pelos programas que eu faço: churrasco e muita bebida. Mas por exemplo sexta fui na adega de um familiar, antigamente a primeira coisa q eu iria fazer era já pedir uma bebida, fiquei lá conversando com minha prima e não senti nenhuma vontade, depois fui pra casa da minha tia e fiquei lá conversando e mesmo já tendo marcado um encontro com amigos na qual teria cerveja eu fiquei super de boa, sem pressa de ir embora, o contrário do que aconteceria antes. Ontem também me chamaram para beber uma cerveja próximo da minha casa, com certeza eu teria ido e me deu uma super preguiça e preferi não ir, e preguiça para beber antes é o que não existia em mim, a menos que o cansaço fosse muito mesmo.

Apesar de já ñ ter mais tanta vontade de beber como sempre ficava, já ficava torcendo pra chegar o FDS pra beber, eu ainda penso muito, mas principalmente no fato de que eu estaria com vontade caso não fosse o remédio, espero q no geral o pensamento por bebida vá diminuindo com o tempo, é este o meu desejo.


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Inicio do uso do baclofeno


Eu não conseguiria assumir para a família a minha falta de controle e não queria iniciar um tratamento com terapia e tudo mais que pudesse envolver família, é difícil assumir isto, ainda mais quando já comentaram os meus excessos e eu negava o vício. Por isto comecei a pesquisar um meio mais discreto de tratar e achei o baclofen e as matérias que já citei abaixo.

Comprei algumas caixas e iniciei como vi nas matérias. Primeiros dias 15 mg por dia dividido em 3 vezes, se não me engano uns 3 dias, depois 30mg/dia por uma semana e depois 60mg/dia e a intenção era aumentar até 120mg/dia a cada semana, pois li que alguém foi aumentando rapidamente e com isto deixou de fumar em poucas semanas.

Mas vamos lá aos relatos:

15mg/dia: muito sono e cansaço e não alterou em nada a vontade.
30mg/dia: os 3 primeiros dias foram bem complicados pelo sono e fadiga, mas eu já senti que eu pensava em cerveja mas que não precisava naquela hora.
60mg/dia: aqui a coisa ficou tensa, eu sentia muita tontura, vontade de ficar deitada o dia inteiro, alguns momentos eu nem sabia o que eu estava fazendo na mesa do computador quando estava trabalhando, a mente embaralhou mesmo. Meu sono descontrolou, ficava com sono o dia inteiro, acordava as 06:30 da manhã até aos sábados e domingos e não conseguia mais dormir, para levantar e passar o resto do dia com sono. Numa viagem dirigindo na qual estava com a família fiquei até preocupada de tanto cansaço e sono mas deu tudo certo.O ponto positivo é que eu fiz esta viagem curta com a família e não senti o mínimo de vontade.

Nesta última semana voltei a tomar 30mg/dia e tenho certeza que jamais vou conseguir tomar as altas doses que o doutor que descobriu o remédio tomava que era 270mg/dia, nem era esta a minha intenção, mas nem 60mg/dia eu consigo, talvez tomando 30mg/dia eu já vou alcançar meu objetivo, aliás, já estou alcançando, hoje é sexta feira e apesar de ter marcado um encontro com os amigos, a última coisa que eu estou pensando é em beber.

Se a pergunta for: você ainda está bebendo? Eu digo: sim, continuo bebendo, mas confesso que bebo muito mais pelas companhias, está todo mundo bebendo, fica pedindo pra eu beber, acabo bebendo, mas não é algo que eu vou só para beber. Eu consigo beber devagar, acabar uma lata e ficar um tempo batendo papo antes de pegar outra lata e ir embora antes de ter acabado a cerveja da geladeira da onde eu estiver.

Hoje eu fico pensando em como numa tarde de sexta feira como esta, já estaria me imaginando sair do serviço e fazer um happy hour para iniciar o final de semana, e hoje não estou pensando nisto, penso muito mais no que eu estaria pensando se não fosse o baclofen.

O baclofen mesmo sendo 30mg/dia ainda me sinto fadigada, cansada, com sono, mas penso que será algo necessário para eu me livrar totalmente do vício. Pelo que li, o doutor que descobriu e era um alcoólatra tomou o remédio por 2 anos seguidos, e hoje ele apenas leva consigo caso sinta que possa ter alguma recaída, pretendo fazer isto.

Eu diria que quem dirige todos os dias ou tem serviço que fica muitas horas em pé tem que tomar muito cuidado com as doses elevadas, talvez isto seja de cada pessoa, mas eu achei que meu corpo reagiu mal a dose de 60mg/dia, não adianta não sentir vontade de beber porque só pensa em ficar deitado o dia inteiro não é? Dirigir com essas doses altas pode ser até perigoso, mas como no Brasil nenhum médico vai te indicar e só tomará quem for por iniciativa própria, sugiro conhecer o seu corpo e começar com as doses baixas e ir subindo conforme achar que pode.

Vou tentar sempre postar como está sendo cada semana e espero um dia poder dizer: estou totalmente livre.


Minha história com o álcool!

Sou mulher e tenho 31 anos, não bebi alcool até os 20 anos, mas com a entrada na faculdade e os amigos sempre indo ao bar, comecei a beber, acredito eu que como a maioria das pessoas, no bar da faculdade.

Inicialmente eu bebi algumas doses de vodka ou pinga, ou qualquer bebida quente pois eu odiava o gosto das bebidas, mas gostava da sensação de extroversão, nunca fui introvertida, mas também não me sentia muito a vontade com pessoas que eu tinha acabado de conhecer, e via os amigos que bebiam sendo "melhores amigos" de quem acabava de conhecer e eu achava o máximo, logo de inicio nos primeiros meses eu já exagerava nas doses pois meu intuito era apenas ficar "alegre" logo. Nesta época também foi quando comecei a sair muito com os amigos da faculdade e os que eu fazia fora da faculdade, era tanto amigo que eu não dava conta, mas quantos mais eu tinha mais eu achava o máximo ter. Enfim, foi basicamente por essa sensação de ser popular e ter muitos a minha volta que eu continue bebendo e exagerando na bebida.

Acontece que eu tenho grande histórico de alcoólatras na família. Um tio hoje é praticamente inválido, tudo bem que juntou o álcool com esquizofrenia, mais uns 2 tios de segundo grau também tiveram grandes problemas com o álcool. E hoje também uma tia irmã da minha mãe já estamos considerando alcoólatra devido as suas ações. O pior de tudo é meu pai, meu pai morreu com 38 anos de cirrose. Então por ai já se vê que eu tinha grandes chances de poder ser, mas como meus primos e irmãos sempre beberam bastante mas nunca tiveram problemas achei também que comigo tudo bem, nem me dava conta na época dos riscos que eu corria, serei mais esclarecidas com meus filhos quando tiver.

Eu não sou me considero uma alcoólatra compulsiva, e sim aquele alcoólatra social, vou explicar. Eu não bebo todos os dias e a bebida nunca atrapalhou o meu meio social e nem o meu trabalho, apesar de já ter trabalhado muitas vezes de ressaca e ter atrapalhado nos afazeres do dia a dia, mas não era algo corriqueiro, mas por outro lado sempre tive muitos problemas com meus relacionamentos amorosos, quando bebo fico agressiva nas palavras, xingo, coloco pra fora tudo o que me incomoda que sóbria eu guardo, e até já agredi fisicamente um namorado que óbvio terminou comigo. O meu problema foi exatamente este ser agressiva com meus companheiros, fora que corri vários outros perigos e coloquei outras vidas em risco como sempre dirigir embriagada, fazer brincadeiras com o carro devido a desinibição do álcool.

Logo quando comecei a beber que eu odiava o gosto, basicamente eu só bebia de sexta e sábado, ou só um dos dias, muito difícil eu beber durante a semana. Mas depois de uns 5 anos bebendo e que a situação financeira foi melhorando pois já estava formada e trabalhando estes dias se estendiam para domingo e quinta as vezes, e já inseri a cerveja no meu "cardápio", sempre começava com a cerveja e depois ia para os mais fortes. Algumas épocas como carnaval ou festas em sítios eu já "curei" a ressaca bebendo mais, acredito que a maioria já fez isto.

Muitas pessoas já comentavam pelas costas claro, que eu era uma dependente de álcool, pois em qualquer festa que eu ia a primeira coisa que eu queria saber era das bebidas alcoólicas, só uma bem próxima comentou que diziam que eu era alcoólatra, isto com pouco tempo que eu bebia, coisa de 2 anos bebendo, mas já pelos excessos.

Aos 27 anos devido a uma ressaca moral eu cortei todos as bebidas quente e adotei somente a cerveja, mas mesmo assim eu só parava de beber quando já estivesse com muito sono querendo dormir, não conseguia beber algumas e continuar conversando com a galera, sempre estava com a cerveja na mão, emendando uma atrás da outra, como sou muito fraca, na sexta ou sétima cerveja já procurava um lugar para deitar, e se não tivesse eu continuava bebendo era capaz até de dormir sentada.

Depois que comecei a beber cerveja, nunca mais fui num bar e sentei só pra conversar, ou numa festa, ou churrasco, algumas festas de amigos do meu marido que são evangélicos que não tem bebida para mim era um saco, ficava pouco tempo e queria ir embora, não conseguia me divertir sem uma cerveja na mão. Na casa da família do meu marido também achava um saco não poder uma latinha de cerveja, para minha sogra é coisa do capeta álcool, mas isso não vem ao caso. Alguns amigos iam a festas conosco e dizia que não ia beber porque tava tomando remédio ou estava de regime, e eu sempre senti inveja. Como? Se divertir sem álcool? Eu nem saio de casa. Era basicamente este o meu pensamento.

Depois do casamento eu comecei a beber mais pois sem a presença da minha mãe que pegava no pé eu comprava cerveja e deixava na geladeira, para a hora de fazer o jantar, a hora de fazer limpeza, na hora de trocar uma ideia com o marido.

Sexta-feira para mim era sinonimo de cerveja, com amigos ou em casa com o marido, meu marido também bebe e bebe bastante, mas não tinha a mesma cabeça que a minha que para se divertir precisava beber, ele conseguia se divertir sem álcool, e até por beber nunca incomodou tanto ele meus excessos, exceto quando comecei a ser muito agressiva e ter brigas feias quando eu bebia, ele dizia que éramos ao contrário, e se eu fosse o homem e ele a mulher que eu agrediria fisicamente ele, e é verdade.

Nos últimos tempos, eu já estava bebendo praticamente todos os dias da semana, acho que só não bebia de segunda e terça e as vezes começava a beber já na quarta.

Essa foi a minha história só pra entender a raiz do problema.

O que me fez tomar a decisão de que apesar de ainda não ser considerada um alcoólatra compulsiva, eu não conseguia mais viver sem o álcool, e qual poderia ser este malefício quando eu tiver com meus 50 anos bebendo tanto assim?



Tratamento contra o alcoolismo

Resolvi fazer este blog pois apesar de ter lido muitas matérias falando sobre o baclofen/ baclofeno, que é um medicamento contra espamos musculares/ relaxante muscular, e que vem sendo muito usado para o tratamento de alcoolismo, poucas pessoas gostam de falar no assunto e tem poucos relatos. Eu acho que falar os resultados e os efeitos colaterais é muito importante para quem deseja iniciar o tratamento que ainda não é prescrito no Brasil. Na verdade atualmente somente na França é autorizado pelos órgãos de saúde.

Vou postar aqui algumas pautas e matérias que já li antes de iniciar a falar de mim mesma:



Sou psicóloga e tenho conversado com alguns amigos médicos sobre o tratamento do alcoolismo com a medicação chamada baclofeno. Há muitos pacientes interessados nesse tema. Essa medicação é eficaz?


Resposta: O alcoolismo é uma doença crônica que necessita de tratamento médico e psicológico prolongado. Semelhantemente a qualquer doença crônica, como diabetes mellitus e hipertensão arterial, episódios de recaídas e falhas terapêuticas são bastante comuns.
A heterogeneidade dos portadores dessa doença deve sempre ser considerada durante as abordagens terapêuticas, tendo em vista que determinados tipos de alcoolistas respondem diferentemente a específicos tipos de tratamento.
Progressivamente, tem-se verificado que a associação entre o tratamento farmacológico e o psicossocial é mais eficaz do que qualquer uma das abordagens aplicada isoladamente em dependentes de álcool.

Além da heterogeneidade dos portadores de alcoolismo, os profissionais de saúde dedicados ao manejo dessa doença devem estar cientes das várias alterações neurobiológicas provocadas pelo consumo prolongado da droga. Essas alterações justificam a utilização das medicações atualmente existentes para o tratamento dessa condição.

A busca por agentes psicofarmacológicos eficazes no tratamento de pacientes dependentes de etanol tem, durante as duas últimas décadas, identificado algumas drogas com potencial utilidade clínica no tratamento da dependência de álcool. Até o momento, apenas três medicações receberam aprovação do FDA (Food and Drug Administration) para o tratamento da Síndrome de Dependência do Álcool: Dissulfiram, Naltrexone e Acamprosato. No entanto, novas medicações têm sido intensamente estudadas para tratar esse grave problema de saúde pública com resultados promissores, como o topiramato, o ondansetron, o baclofeno, dentre outras.

De qualquer forma, o tratamento farmacológico do alcoolismo tem passado por um período de crescimento e otimismo científico, apesar das medicações até então aprovadas demonstrarem modesta eficácia na promoção e manutenção da abstinência na população de dependentes de álcool.
Ação do baclofeno

O baclofeno é uma medicação aprovada pelo FDA (Food and Drug Administration) como um relaxante muscular, ou seja, com atividade antiespástica. Essa medicação exerce ação depressora sobre o Sistema Nervoso Central, através de ação específica sobre receptores inibitórios (GABAb).
Diminui fissura por álcool 
Os efeitos do baclofeno na redução da fissura por álcool podem ser explicados pela sua capacidade de interferir com os substratos neuronais que medeiam as propriedades reforçadoras do etanol. Essa hipótese poderia explicar o rápido efeito do baclofeno na redução do pensamento obsessivo pelo álcool já verificado em algumas pesquisas realizadas com alcoolistas.

Em pacientes dependentes de álcool, alguns estudos abertos e *duplo-cegos utilizando a medicação baclofeno foram já desenvolvidos e concluídos. Um dos primeiros estudos publicados em revista científica, com o baclofeno sendo administrado na dosagem de 15mg/d nos primeiro 3 dias e depois 30mg/d por 30 dias, demonstrou eficácia. No segundo estudo, com 9 homens e 3 mulheres recebendo baclofeno na dose de 30mg/d por 12 semanas, a medicação foi efetiva na redução do consumo de álcool, na manutenção da abstinência e na redução da fissura.

Em estudo duplo-cego randomizado placebo-controlado com 39 homens dependentes de álcool (20 pacientes em uso de baclofeno 15 mg/d nos 3 primeiros dias e depois 30 mg/d divididos em 3 tomadas diárias por 4 semanas e 19 pacientes em uso de placebo), 70% daqueles que fizeram uso de baclofeno permaneceram abstinentes durante a pesquisa contra 21% dos pacientes em uso de placebo.

Recentemente, publicou-se outro estudo duplo-cego randomizado com 84 dependentes de álcool com cirrose hepática, no qual metade dos pacientes tomou 15mg/d nos 3 primeiros dias seguidos por 30mg/d de baclofeno (com a dose de 10 mg tomada por 3 vezes ao dia) e a outra metade tomou placebo 3 vezes ao dia por 12 semanas. Dos pacientes em uso de baclofeno, 71% permaneceram abstinentes durante o período do estudo, enquanto dos pacientes que tomaram placebo 29% permaneceram abstinentes.

Nesses estudos, o baclofeno também provou ser efetivo na redução da fissura, reduzindo seus componentes obsessivos e compulsivos e outros componentes ansiosos. Finalmente, o baclofeno foi bem tolerado, com poucos efeitos colaterais e sem risco de abuso.

Entretanto, ainda faltam estudos para averiguar para quais tipos de pacientes a medicação baclofeno pode ser mais eficaz. Similarmente aos prévios estudos farmacológicos para avaliação da eficácia de medicações (como aqueles envolvendo o Acamprosato e Naltrexone) no tratamento do alcoolismo, têm também surgido pesquisas que não demonstram a eficácia do baclofeno sobre o placebo entre dependentes de álcool. Resultados contrastantes devem ser melhor verificados, avaliando para qual tipo de alcoolista essa medicação é mais eficaz.

Sob quaisquer hipóteses ou pretextos, nenhuma medicação por si só deve ser considerada “a pílula mágica” para o tratamento dessa grave doença médica. De fato, pesquisas sérias devem ser desenvolvidas para melhor avaliar a eficácia e segurança terapêutica da medicação, inclusive com doses maiores das que têm sido já utilizadas em pesquisas publicadas em revistas científicas sérias. Certamente, todas as pesquisas envolvendo o uso de medicação devem ter a aprovação de comitês de ética devidamente organizados.

De qualquer forma, o otimismo científico em torno dessa medicação não tem sido pequeno; todavia, o cuidado em relação ao “endeusamento” dessa medicação deve sempre ser considerado, tendo em vista a heterogeneidade dos portadores dessa doença.
* Duplo-cego: método de pesquisa onde o pesquisador e o sujeito da pesquisa não conhecem exatamente qual o fármaco que está sendo administrado naquele momento.

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 Paris - Um estudo dirigido por um médico francês de 2008 a 2010, publicado esta semana na revista "Frontiers in Psychiatry", mostra a eficácia do baclofeno no tratamento a longo prazo do alcoolismo.
Até o momento, a eficácia desta molécula, inicialmente prescrita na neurologia, mas cada vez mais utilizada no tratamento do alcoolismo, tinha sido testada apenas em curto e médio prazo, até um ano após o início do tratamento.
O novo estudo, liderado pelo Dr. Renaud de Beaurepaire (Groupe Hospitalier Paul-Giraud em Villejuif, perto de Paris), focou em 100 pacientes, dependentes de álcool e resistente aos tratamentos convencionais. Eles foram tratados com doses crescentes de baclofeno e sem limite superior.
Os resultados mostram que a percentagem de pacientes que se tornou totalmente abstinente ou que passou a ter um consumo normal, segundo os padrões da Organização Mundial de Saúde (OMS), foi de aproximadamente 50% em todas as avaliações realizadas após três meses, seis meses, um ano e dois anos.
Um número de pacientes também conseguiu diminuir significativamente o seu consumo de álcool, mas sem ainda ter total controle, e passaram a se enquadrar na categoria de pacientes com "risco moderado", de acordo com padrões da OMS.
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França autoriza o uso do medicamento Baclofeno para tratar o alcoolismo

A Agência Nacional de Segurança do medicamento da França (ANSM ) autorizou a recomendação temporária do uso do medicamento Baclofeno para o tratamento do vício do álcool, após estudos apontarem sua contribuição para a diminuição do consumo de bebidas alcoólicas e a manutenção da abstinência. Desde 2008 o medicamento, vem sendo testado contra alcoolismo, apresentando resultados favoráveis. A agência recomenda que seja feito um acompanhamento psicossocial dos pacientes para assegurar que o uso do medicamento não leve à outros problemas.
Apesar de não ter autorização para a prescrição do medicamento para estes casos, estima-se que mais de 50 mil pessoas já utilizavam o Baclofeno para parar de beber. O uso deste produto é muito comum no tratamento de doenças neurológicas como a esclerose múltipla e Parkinson, sendo indicado também como um eficaz relaxante muscular.
Os resultados dos testes para verificar a eficácia do uso do medicamento Baclofeno para tratar o alcoolismo à longo prazo na França continuaram positivos, o que indica a possibilidade de que o medicamento possa começar a ser indicado para ajudar no combate ao vício do álcool.
De acordo com uma pesquisa publicada ainda em 2012 na revista médica Frontiers in Psychiatry, os efeitos positivos da do Baclofeno nas pessoas que sofrem com o alcoolismo podem durar por pelo menos dois anos. Em um primeiro momento, o teste coordenado pelo professor Renaud de Beaurepaire, foi feito com 100 pessoas classificadas como de ’alto risco’, no Grupo Hospitalar Paul Guiraud, França.
Na ocasião, após três meses de observação do tratamento com doses do medicamento, 84% dos pacientes alcoólatras passaram a ser classificados como de baixo risco (controle do consumo) ou moderado (consumindo menos, mas não controlado). Passados dois anos, a taxa observada foi de 62%. Isso demonstra que há fortes indícios de que o medicamento pode ser considerado uma alternativa aos tratamentos convencionais.
Recaídas 
Ainda de acordo com a pesquisa, os pacientes que permaneceram no grupo de ‘alto risco’ nos primeiros meses se explica pelo hábito de beber ou pela motivação insuficiente para parar, mais do que pela ineficácia do medicamento. Para os pesquisadores, grande parte das pessoas que participaram do estudo estava tão ritualizada ao ato de beber que apresentava muita dificuldade em parar, mesmo com a redução do apetite pelo álcool após o uso do baclofeno. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão a fadiga e a sonolência.