quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Testemunho de um leitor

Eu comecei meu uso há muitos anos atrás quando fui presenteado com um papel nome que dávamos para aquele tipo de droga. Fiquei maravilhado . Usei. Li um livro de 500 folhas na noite. Sem parar. Uma maravilha. Ainda era o paraíso.
No outro dia disse comigo mesmo: essa droga é boa demais para mim. Fiquei anos sem tocá-la.
Passados alguns anos num carnaval meu amigo e eu fomos numa casa noturna e ele me ofereceu e daí para frente usamos quase toda sexta. Sexta cheira.
O problema era que todo sábado dormia até tarde. Acordava com nariz super entupido e desgraçadamente deprimido.

Muitas vezes saia de madrugada com desculpas: comprar sorvete, comprar pizza, ajudar um amigo que tinha batido o carro, ir ao hospital porque não estava me sentindo bem, ir trabalhar mais cedo e comprar e ficar usando até entrar no trabalho, mentir inúmeras vezes que tinha uma alergia no nariz.
Um hábito muito comum quando não tinha dinheiro era trocar no cartão de crédito no posto dando uma grana a mais ao carinha do posto de gasolina. Fiz isso inúmeras vezes para poder pegar droga.
Sempre comecei a usar depois do uso do álcool e depois de um tempo depois de algumas latas de cerveja o superego se dissolvia e já era meu controle . Ia sempre parar na boca maldita pegar  droga.
Teve uma vez que usei durante a noite inteira. Ainda quando era o paraíso. Usei muito. Acordei e continuei usando. Combinei com um amigo de uma noite sairmos. Minha esposa estava com carro e fui capaz de ir de ônibus pegar droga. Aquele formigueiro de gente atrás de uma pedra de açúcar. Peguei 4 sendo dois para cada um. A noite estava tão mal que disse a ele: passe aqui e pegue para você. Mais ele disse: da um tapa levanta e vamos. Bem : levantei e fui no bar com ele. De repente o maldito pó caiu do bolso. Bati a bermuda e para não perder mandei o que consegui juntar. Não sabia ainda que droga tem limite. Meu corpo começou a formigar. A cabeça formigar. O coração acelerar e o desespero se iniciou. Ainda bem que meu amigo, apesar das drogas, era firmeza. Fui direto para o hospital. Meu medo era o hospital bater a informação para empresa. Garantiram sigilo e estava eu ali achando que iria morrer. O médico disse não sei se irá mais esta no lugar certo. Minha vida foi poupada. 6 litros de soro e muita urina para limpar a maldita cocaína .
Nunca mais vou usar. Mentira. Depois de passado o efeito a mente esquece a dor é lembra só do prazer.

Teve um episódio que eu usei durante a noite. Peguei mais. Passei no médico argumentando outra doença e consegui um atestado. Sai e fui para São Franscisco Xavier. 50 Km daqui. Numa terça feira brava. Usava e dirigia e curtia eu comigo mesmo. cheguei lá meu nariz muito entupido passei em uma farmácia e comprei uma química para desentupir o nariz. Não deu outra. Vamos que vamos. Usando em doses homeopáticas volto a Monteiro 20 km para trás e encontro um colega das antigas. O cara estava com uma adega lá. Finalizamos o pó e pasme voltei na minha cidade para pegar droga e voltei para Monteiro: 80 km dirigindo ( com álcool e droga e sem dormir). Usei até o final da noite. Está noite uma depressão maldita.
Noutro dia não deu outra: liguei para uma pessoa do NA e tive minha primeira reunião.
Lá descobri que estava muito doente. Que sofria de uma doença. Fiquei 2 meses limpo. Mais voltei. Com muita parcimônia. Não usando mais que um pino normalmente na quarta e na sexta. As vezes só na sexta. As vezes só sábado. Mais não mais que duas vezes na semana.
O único requisito para ser membro era o desejo de parar de usar e isso já era claro para mim. Não tinha nenhuma dúvida
Dos 12 passos o primeiro era reconhecer minha adicção( termo que vem do latim que significa escravo de alguma coisa).
Descobri que muitos como eu depois de alguns goles caiam direto na cocaína. Elas formam o cocaetileno( álcool+cocaina). O álcool prolonga o curto efeito da cocaína o que faz um pino ter mais vida é ao mesmo tempo bebia mais porque não chapava tanto por causa do álcool. Mais os efeitos nefastos era bem maior do que o uso não combinado de ambas drogas.
Descobri que o que acontece comigo é bem comum entre os usuários.
O grupo foi bom. Mais quando entra a questão do 2 passo entregar a um poder superior nossas falhas. Que nossa doença é espiritual. Aí a coisa começou ficar obscura para mim. Pensei: como vou ficar aqui se apesar de aceitar a doença não aceito esse papo. Não que não seja bom para aquele que acreditam. Para mim não rola.
Bem me distanciei o que me faz mais suscetível as drogas novamente. Agora com uso mais profissional ( o que pode fazer de profissional nisso) controlando a quantidade para não ter mais overdose.
A maior parte do tempo uso sozinho. Quase sempre. Ela vem preencher a droga que a vida anda. Uma vida repetitiva e chata. Sem emoções e sem por ques significativos.
Mais comecei a desconfiar com minha alma de quem desconfia de tudo que se continuasse assim. Teria mais um grande problema. E vi que parar com o vício, apesar de não usar todos os dias era o mal hábito que já se arrasta por 3 anos.
Mais vi que entrar no inferno é fácil , sair dele nem um pouco.
Procurei meios para minha cura. Fui ao psiquiatra e me receitou topiramato uma droga que promete cortar o craving da droga. Fiquei extremamente esperançoso no início, mai alguns dias depois abalou totalmente meu sistema nervoso. Liguei ao médico e disse que iria cortar. Mente confusa. Loucura. Digo que pior que qualquer coisa que usei.
Acidentalmente dei-me com texto sobre um livro o Fim do meu Vício de um médico francês que bebia de forma pesada e já sem esperança foi cobaia de si mesmo com um medicamento de nome Baclofeno que em altas doses foi capaz de cortar o craving a 270 mg. Nove vezes a doze recomendada na bula. Tendo como contra indicação 30 mg na caixa.
Mais ele leu muito e foi aumentado devagar a dose. Sendo mantido depois sob 140 mg dia. Sendo que a vertigem e o sono com o tempo foi indo embora.
Eu também tornei-me cobaia de mim mesmo no Brasil junto a outras pessoas . Porque aqui  não foi estudada e utilizada porque é um remédio barato que não atende ao interesses das grandes companhias.
Voltei a usar com o medicamento . Mais já não abusava tanto é não tinha a depressão comum nos outros dias. A explicação é o fato do Gaba elemento químico no cérebro cortar o efeito da liberação da dopamina no cérebro. A droga do prazer liberada em quantidade s imensas com uso da cocaína e dando um prazer imenso e no outro dia uma depressão que dá vontade de morrer.
Com aumento das doses para 80 ( 1 mg peso corporal o craving praticamente zerou). Hoje venho tomando 6 mg. Dose suficiente e nos dias críticos aumento 20 mg.
Fiquei 15 dias limpo. Agora estou a 6 dias sem ansiedade para o uso . Apesar de estar passando problemas particulares complicados. Estou em paz e feliz pelo fato de ter esperança de estar vencendo uma luta que começou há um bom tempo.

Parte 2:

Imagina que voltaria usar, não? Mais eu voltei duas vezes por semana. O problema é que além do nariz iniciou um processo de pânico em virtude de aceleração cardíaca. Descobri que a cocaína comprime os vasos sanguíneos é somado ao remédio que tomava para limpar o nariz não deu outra. Depois de muito uso. Uma semana usei na sexta e sábado para ficar acordado.
Na tarde do domingo mesmo limpo veio o inesperado:  pontada no coração , formigamento nos braços e uma dor fortíssima no peito.
Nunca pedi tanto a Deus como o concebo para poupar minha vida. Mais não melhorava. Tentava. Tomei 4 miligramas de eutonis para diminuir o medo é fui eu mesmo com riscos ao hospital.
Joguei a carteira do convênio e relatei tudo sem medo . A mentira só iria piorar. Pressão alta, coração acelerado, medo forte de morrer . Tudo ao mesmo tempo.
Mais uma vez brinquei com a vida e ela foi poupada.
Eletro, exames de sangue é tomografia com contraste do coração. Mais uma vez minha vida foi poupada.
Chorei muito de alegria. Muita emoção por Deus ter tido misericórdia de minha alma.
Só por hoje limpo há 10 dias.

Espero não ter próxima. Pode ser que não tenha.